segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Ouçam-no! Estou farto de vos dizer...

Mário Soares:
maioria dos líderes europeus subserviente a Bush


O ex-Presidente da República Mário Soares considerou hoje que a maioria dos dirigentes da União Europeia continua num estado de apatia dependente da administração Bush e criticou o vazio de ideias de socialistas e democratas cristãos europeus.

As palavras do ex-chefe de Estado foram proferidas na abertura de um colóquio sobre o futuro da Europa, promovida pelas fundações Mário Soares, Respublica (do PS) e Friedrich Ebert (SPD alemão).

Com o auditório José Gomes Motta (da Fundação Mário Soares) completamente cheio, Mário Soares, Anke Fuchs (Fundação Friedrich Ebert) e o ex-comissário europeu António Vitorino foram unânimes na ideia de que a União Europeia atravessa um momento de paralisia.

Mas o ex-Presidente da República foi o mais duro no seu diagnóstico sobre a realidade política europeia na actual conjuntura de crise financeira mundial.

"Num momento de crise global de múltiplas vertentes - financeira, económica, energética, alimentar, ambiental e moral - é dramático que a UE esteja paralisada e sem estratégia concertada a médio e longo prazo. A maioria dos dirigentes europeus continua num estado de apatia e subserviência em relação à administração Bush, sem parecer dar-se conta de que a era que iniciou chegou ao fim", sustentou o fundador do PS.

Mário Soares considerou depois "estranho que as duas principais famílias políticas europeias - a democracia cristã e o socialismo democrático -, que, em conjunto, deram um contributo decisivo para a construção da Comunidade Económica Europeia (CEE) e, depois, da UE, estejam hoje, ao que parece, sem ideias estimulantes, capazes de mobilizar o entusiasmo dos cidadãos europeus".

Em relação ao impasse institucional derivado da vitória do "não" no referendo irlandês, Mário Soares propôs que mesmo assim os Estados-membros avancem, como acontece com as políticas de cooperação reforçada.

"A UE não pode ficar paralisada, pela segunda vez, por efeito do veto, do referendo irlandês, ao Tratado de Lisboa. Será que os dirigentes europeus têm consciência disso e estão dispostos a mudar o sistema institucional, de modo a que os estados que querem prosseguir a construção europeia não sejam travados por aqueles que não querem", interrogou-se Soares.

No capítulo da defesa, Mário Soares foi o mais crítico dos oradores, classificando a NATO "um braço armado dos americanos" e que está a transformar "o Afeganistão num desastre de maiores proporções do que o Iraque".

Diário Digital / Lusa

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