quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O fim do neoliberalismo


Como todas as pessoas informadas sabem, os neoliberais odeiam o Estado. Porque os neoliberais confundem «economia de mercado» com «capitalismo especulativo»: um capitalismo selvagem, sem interferências reguladoras do Estado - logo, sem regras nem limites aos caprichos ou à irresponsabilidades dos gestores das multinacionais e, sobretudo, dos especuladores bolsistas sem escrúpulos.
Mas, tal como está a acontecer agora nos EUA, quando é preciso salvar os prejuízos causados pela sua dogmática doutrina económica, clamam pela intervenção do Estado.
Se os líderes mundiais, finalmente, tiverem juízo, esta crise, de consequências imprevisíveis, vai acabar de vez com o neoliberalismo - e, por junto, provocar um grave rombo no velho capitalismo.
Deixo-vos dois excertos de duas crónicas que escrevi em 1998 - faz agora, precisamente, 10 anos.

«(...) O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento divulgou o seu relatório de 1998. Os resultados confirmam a injustiça social, a crise económica e o aumento da pobreza no Mundo. Alguns indicadores sobre as diferenças de rendimento e qualidade de vida entre países e continentes são tão humilhantes e deprimentes que dispensam comentários. Desde, pelo menos, os anos setenta que a economia tomou conta disto. E isto que o relatório revela é o resultado das contas furadas da economia liberal. Um resultado triste e muito pouco animador. Entretanto, o Mundo navega à deriva. Sem rumo nem liderança. (…) A “direita” e a “esquerda” têm vindo a encontrar-se progressivamente ao “centro”. Um “centro” indeterminado, sem vontade nem ideais - gestor das circunstâncias, refúgio dos acomodados e futuro cemitério de uma geração de políticos.
Sabemos que a coisa não pode e não vai continuar assim. Mas a solução tarda a chegar. A crise bolsista (que já tinha aqui modestamente antecipado) e o rombo na economia especulativa, (…), são sintomas de uma desorientação geral e da ausência de liderança no Mundo. (…) Os EUA espirraram e o resto do Mundo engripou.(...)»
15 de Setembro de 1998

«(…) Este século foi vertiginoso e arrepiante (o tal século “breve”), e esta época de transição - sabe-se lá para quê e para onde - não tem sido muito animadora. A falência tem sido, nos últimos anos, a palavra de ordem: falência das ideologias, dos modelos económicos, das ordens morais e da fé tradicional. Estes dias, a barbárie na Argélia e os “sismos” financeiros nas praças asiáticas deram-nos sinais claros de que não há motivo para optimismos panglossianos. As histórias que Bernard-Henry Lévi tem publicado no Público sobre o terror argelino provocam-nos um envergonhado niilismo. Por esse mundo fora, nidificam diariamente conflitos tão violentos como irracionais. (…) Os líderes políticos do mundo inteiro vão navegando ao sabor do vento. E a “globalização” económica geme e treme.
(…) Estão reunidas algumas condições para a deflação, e Wall Street tem vivido estes dias num justificado desconforto, olhando constantemente por cima do ombro. Este modelo reinante de capitalismo financeiro, com o descontrolo natural da especulação, (…) e a dificuldade dos mercados (…), recordam o 24 de Outubro de 1929, a famigerada quinta-feira negra, quando o crash da Bolsa de Nova Iorque afundou o mundo numa gravíssima depressão.(...)»
15 de Janeiro de 1998

4 comentários:

Ridere disse...

Pois é, muita gente ainda não acredita mas isto do neoliberalismo/capitalismo está agónico. A descrença das pessoas em relação às iminentes mudanças só significa duas coisas:
1-Ainda estão receptivas a mais sacrifícios em nome dos grandes senhores do dinheiro (e da sua fictícia crise)
2-Não sabem o que as espera quando a verdadeira crise começar e vão estar a comer latas de atum sem saber porquê (se as houver)

Abraço, João

Ridere disse...

A questão é se compramos já a Kalashnikov (AK-47)!

LFM disse...

Eu já estou é a pensar em mísseis inter-continentais.
Se a CIA lê esta merda ainda me envenena o chá...
Pronto, srs. da CIA e da Mossad, um canivete suíço, pode ser?????

Anónimo disse...

isto é preocupante... pena poucos se preocuparem...
Bjokitas Mágà