sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Cavaco, O Estreito, deu um sinal da sua estultice



Quando tomei conhecimento de que Cavaco ia, com pompa e solenidade, “dirigir-se” ao país para fazer uma comunicação de Estado, disse à minha pequerrucha: «O tipo vai dizer que tem bicos de papagaio incuráveis e, por isso, vai renunciar.»

Enganei-me na renúncia, mas acertei nos bicos de papagaio. Só um papagaio ocioso, sem nada para fazer ou dizer, é que manda parar um país para abrir o bico e não dizer nada. Cavaco já não acumula cuspo nos cantos da boca (como nos primeiros tempos), mas continua a ser desagradável vê-lo ouvir falar – dá sempre aquela sensação de quem come bolo-rei de boca aberta. Ora, fazer sair a malta das praias mais cedo, colocar o país em suspenso um dia inteiro - à espera que ele fale da crise e tome uma posição política em relação ao país -, e depois parir um discurso sobre o Estatuto Político-Administrativo dos Açores (que, sendo institucionalmente importante, diz aos continentais quase o mesmo do que as previsões da Maya), é semelhante ao Pinto da Costa convocar uma conferência de imprensa para dizer que o Imortal de Albufeira tem um jogador coxo.

Sendo um assunto no qual todos os partidos (sem excepção) têm “culpa” e responsabilidades exclusivas (recordo que o Estatuo foi votado por unanimidade na Assembleia da República), e cabe aos deputados resolverem e corrigirem as inconstitucionalidades que deixaram passar (e que já todos admitiram), pereceu-me que a explicação para aquela estultice foi o homem acordar com os gritos da Maria, e decidir mostrar ao mundo que é muito homem: «Pronto, vou dirigir-me ao país. Assim a Maria vai ver quem é que manda e deixa de me obrigar a comer salada de rúcula.» E já que ia falar, aproveitou a estúpida comunicação para dar uma ajuda à comunicação social, permitindo as mais variadas análises e comentários – notem que, no estio, há falta de notícias, e uma patetice do Presidente da República dá sempre um jeitão aos jornalistas.

Outra explicação - muito rebuscada, admito -, para Cavaco Silva ter feito aquele aparato todo, é a remota possibilidade de ele andar a ler Leibnitz (portanto, muito improvável, uma vez que ele nem saberá quem é) e ter dado com uma questão que o filósofo coloca por razões de natureza metafísica, mas que Cavaco terá levado à letra, porque a observação transcende os seus neurónios: «Porque é que existe uma coisa em vez de nada?» «Boa», pensou O Estreito, «vou fazer existir um facto político para que não me acusem de só visitar lares de idosos e aparecer nas vindimas.»

Ai, Mário, fazes-nos tanta falta. É que comparar a parolice deste homem com a tua estatura política e intelectual, é como confundir a estrada da Beira com a beira da estrada. E Cavaco nem chega a ser a beira de uma estrada secundária; é um estreito passeio de uma ruela escura, deserta e sem saída.

1 comentário:

Anónimo disse...

Já li o teu blog!! Não fiques triste!

P.S. (e gostei!)